Do medo da
punição ao simples prazer, são inúmeros os motivos pelos quais mentimos.
Elevamos a mentira ao seu grau máximo, muito além da simples luta pela
sobrevivência, como ocorre em outras espécies.
A pesquisa sobre a mentira é muito
abrangente e a pergunta “Por que mentimos?” talvez seja uma das mais
instigantes. Diversos autores, cientistas e pesquisadores se debruçaram
sobre o tema a fim de obter respostas. A arte de mentir foi se
sofisticando ao longo da evolução humana; mais do que isso, elevamos a
mentira ao seu grau máximo, muito além da simples luta pela
sobrevivência, como ocorre em outras espécies. São inúmeros os motivos
pelos quais a mentira acontece. E isso só faz aumentar o número de
mentiras que ouvimos. De acordo com estudos, em média, escutamos 210
mentiras por dia.
O medo da punição talvez seja o motivo mais comum pelo qual mentimos.
Um típico caso foi protagonizado em 2005 pelo então assessor
parlamentar Adalberto Vieira. Ele foi capturado pela Polícia Federal, no
aeroporto de Congonhas, com R$ 209 mil em uma bolsa de mão e mais US$
100 mil escondidos na cueca, quando tentava embarcar para Fortaleza. Ao
ser pego, o rosto de Vieira mostrava, ao mesmo tempo, surpresa e medo.
Ele não esperava a abordagem (surpresa). No entanto, sabia que se fosse
preso não teria argumentos para se defender (medo).
As pessoas mentem também para obter prestígio. É comum, por exemplo,
ampliar o currículo com títulos de mestrado, cursos no exterior e
experiências de liderança. Ao mesmo tempo que ganha prestígio, o
mentiroso deseja manter alto o nível de autoestima. Alguns potencializam
um fato real, dando-lhe uma grandiosidade que existe apenas em suas
mentiras.
Não dizer que a amiga está mais gorda ou fazer elogios ao vestido
horrível que a chefe está usando são exemplos de mentira em interações
sociais, ditas, em geral, para evitar constrangimentos. A mentira como
“amortecedor” das relações sociais é mais comum do que se pensa.
Há mentiras também que visam proteger pessoas e preservar a
reputação. O exemplo mais comum é “preservar a memória do morto”. No
Brasil existe o hábito de absolver de imediato aquele que morreu,
livrando-o de todas as culpas do mundo. Até os programas de televisão
mostram versões da vida de artistas e outras personalidades de forma
mais “aceitável” depois da morte.
No quesito ganhos materiais e pessoais, a lista também é bastante
extensa. O vendedor que exalta as qualidades do tênis de couro quando na
verdade sabe que ele é composto de apenas 5% do referido material. A
empresa que vende o perfume que tem o poder de atrair qualquer tipo de
homem ou mulher. A televisão que vai durar por toda uma vida.
Mentimos também para preservar a privacidade, para manipular
informações, pelo senso de poder, para manipular o comportamento do
outro, para esconder algo, para realizar um desejo, para apoiar ou
beneficiar outra pessoa, para causar danos ao outro e até por prazer.
Assim como muitos atletas se arriscam pelo prazer da aventura, pelos
altos níveis de adrenalina, há quem minta pelo simples prazer de mentir.
O ganho é o prazer de ver a vítima enganada e de provar sua capacidade
de mentir, sua superioridade em relação à pretensa vítima.
Não minta pra mim!
A mentira faz parte da história da civilização. Ao longo dos séculos,
inúmeros pesquisadores se dedicaram ao tema pelas diferentes vertentes:
científica, social, moral e até evolutiva. Apesar da diversidade do
assunto, uma conclusão é unânime: toda mentira – até mesmo a mais
inofensiva – tem consequências. No livro Não minta pra mim! Psicologia
da mentira e linguagem corporal (Summus Editorial, 216 p., R$ 53,80),
Paulo Sergio de Camargo apresenta definições de mentira e destrincha as
principais situações em que ela se instala. Fruto de mais de 15 anos de
pesquisa, o autor destaca a realidade nacional em relação ao assunto e
aborda os principais sinais da linguagem corporal dos mentirosos.
Especialista em grafologia e linguagem corporal, Camargo mergulhou no
tema com o objetivo de revelar ao leitor um meio prático de reconhecer
as mentiras, lidar com os mentirosos e evitar as armadilhas que as
mentiras impõem em diversos contextos: em casa, na escola, no ambiente
de trabalho, na política. “Temos a equivocada propensão a acreditar que
somos capazes de identificar mentiras com certa facilidade. Não é bem
assim. Após anos de estudos e pesquisas, sei que devemos ter cautela ao
tentar reconhecer alguém com capacidade e habilidade cognitivas para
enganar quem quer que seja”, afirma.
De acordo com Camargo, não somos um país singular quando o assunto é
mentira, mas há muitas diferenças em relação a outras culturas. “Talvez a
leniência com que tratamos as mais descaradas mentiras seja nossa
característica mais marcante”, diz o especialista.
Da falsa informação acrescentada no currículo às falácias dos
políticos, do conto do vigário ao autoengano, o livro apresenta os mais
diversos tipos de mentira. “Pequenas mentiras, mentiras brancas,
mentiras inocentes – ou qualquer que seja o nome dado a elas – vão minar
a confiança de alguém ao longo do tempo”, esclarece o especialista.
Segundo ele, a maioria das pessoas está acostumada a avaliar os
benefícios que as mentiras nos trazem e não os danos e os prejuízos que
acarretam aos demais. De acordo com estudos, escutamos, em média, 210
mentiras por dia.
Em 20 capítulos, Camargo transmite a maior quantidade possível de
informações a respeito do tema, mesmo reconhecendo que ainda há muito
para ser estudado e até mesmo descoberto. Os capítulos tratam da
dificuldade de definir a mentira, dos tipos de mentira, do autoengano,
do porque mentimos, da mentira escrita como falsificações e atestados
médicos, da mentira como doença, dos sentimentos relacionados à mentira,
dos mentirosos em cadeia nacional, da linguagem corporal e das
microexpressões no momento da mentira, entre outros temas.
Fonte: Paulo Sergio de Camargo, conceituado grafólogo. Pós-graduado em gerência e desenvolvimento de Recursos Humanos
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